quinta-feira, 15 de agosto de 2013

PREFÁCIO




Ao enveredar pelas linhas a seguir, alguns leitores, tomando ciência de quem as escreve, talvez se vejam envolvidos por brumas de incredulidade e hesitem prosseguir: afinal, por que um romancista estaria introduzindo uma coletânea dedicada a contos? De fato, não é pequena a parcela do público que enxerga a literatura através de um postigo exíguo e mesquinho, segregando contos de romances, e nutre um preconceito que por vezes beira a superstição.
Confesso: durante muito tempo, enclausurado na masmorra dos romancistas radicais, integrei essa estirpe de espíritos débeis e viciosos, que viam contos com olhos glaciais. Mas a boa ventura entrelaçou meu destino aos de exímios contistas de uma incipiente safra nacional, e percebi extasiado: toda forma de literatura resplandece sob o mesmo sol. Mais que isso. Entendi que o contista é um ser notável, pois, na ação de suas histórias, ele está adstrito a universos reduzidos — já que a narrativa nesse estilo literário costuma ater-se a um único fragmento existencial dos personagens, a um único drama em especial, a um único momento definido no tempo — limitação só vencida por uma pena criativa, capaz de conferir um lirismo (igualmente único) às palavras, de elevar a simplicidade a dimensões inimagináveis, de conceder auras oníricas a situações cotidianas e de fazer do clímax dramático um instante intenso e mágico, tudo com o objetivo de arrebatar o leitor de maneira singular, o que remete à célebre e arguta frase do contista argentino Julio Cortázar: “No combate entre um texto e seu leitor, o romance sempre vence por pontos, enquanto o conto deve vencer por nocaute.”
A despeito de todas as qualidades inerentes aos contos e dos prazeres proporcionados por esse estilo narrativo, promovê-los em um projeto demanda coragem e abnegação. O fomentador precisa superar a barreira do gosto popular por histórias longas e apresentar um produto atraente ao público — como dito acima, que o nocauteie. Entre esses heróis criativos, temos uma maranhense dada a “letripulias” — como ela própria define sua postura literária — que, apesar de formada nas áreas de Ciência da Computação e Romanística, é autora e editora de EBooks gratuitos e independentes, blogueira voltada às Letras e mentora do projeto 15 Contos +, cujo segundo volume estou tendo a felicidade de introduzir.
Tal qual um gemólogo encantado ao se deparar com o potencial de diamantes inlapidados, li, feliz, os textos auspiciosos deste volume em seu estado original, sem revisões ou alterações. Assim como uma pedra precisa ser bela, rara e durável para ser considerada uma gema, um texto, além de possuir certos atributos para ser qualificado como conto, também necessita de certas qualidades para ser precioso. E elas estão presentes nas linhas criadas pelos autores desta coletânea, pois Helena selecionou escritos promissores — poéticos, criativos e repletos de imagens vívidas — para integrá-la. O leitor que se aventurar neste volume certamente se deparará com diversos estilos de contar um conto, mas jamais deixará de se deleitar.
As palavras na história de um contista exímio são cheias de significados especiais, cujo enunciado nem sempre se extrai em um primeiro momento (coisa da verdadeira arte), e demandam leitores sensíveis, que queiram e saibam degustá-las na essência. Espero que você, que acompanhou até o final esta introdução, seja um desses seres abençoados.

Sergio Carmach, 29 de julho de 2013.

SERGIO CARMACH é escritor — autor do livro Para Sempre Ana (Editora Caravansarai, 2011), indicado para concorrer na categoria “melhor romance” do Prêmio Literário Codex de Ouro 2013 — videomaker e advogado (sergiocarmach.blogspot.com).




Copyright 2013 (c) - Todos os direitos reservados ao autor. Esta obra é parte da coletânea 15 Contos+ Volume II, Helena Frenzel Ed. e está licenciada sob uma Licença Creative Commons 2.5 Brasil. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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