quinta-feira, 15 de agosto de 2013

0800 SUICÍDIO



Por Antonio C. Almeida
           
— Cale a boca!
— Quem é você para me mandar calar a boca?
Neste momento, Rogério esbofeteia Raquel, que tropeça e bate com a cabeça na parede, desfalecendo.
Batem à porta da casa de Rogério, anunciando ser a polícia. Rogério recua ao mesmo tempo em que grita: — Ninguém chamou a polícia! Os policiais arrombam a porta, entram gritando: — os vizinhos chamaram. Dois policiais invadem a casa. Como Rogério exibia resistência, os policiais o espancam e algemam. Uma policial feminina corre para cuidar de Raquel.
Dois anos se passaram e Rogério agora se encontrava em um bar, sentava ali todos os dias após o seu expediente de trabalho. Falava da vida com alguns conhecidos. Acreditava ser vítima de sua própria arrogância, ganância e estupidez. Uma vida repleta de uma falsa segurança.
Atentamente, Marcio, amigo que Rogério encontrava nesse estabelecimento sempre naquele horário, escutava e balançava a cabeça, por vezes segurava o ombro do amigo e o aconselhava. Vida de erros e desleixos. Desleixo como no trabalho, que após tantas faltas perdera. Engenheiro civil, trabalhava em construções e era muito requisitado. Agora se virava com alguns bicos em pequenas construções, sem a alta remuneração e a consideração de seus chefes. Vagava pelas ruas da cidade odiando a felicidade alheia e se refugiava em uma pequena quitinete. Seu espaço: uma cama, uma mesa e um bar.
Em um dia como qualquer outro, Rogério para no seu ponto, senta e pede uma bebida de fim de expediente. Marcio não se encontrava, um homem desconhecido se aproxima de Rogério e joga um cartão à sua mesa, se achega e fala: Este número é a sua solução. Rogério fica intrigado, observa o homem que se afasta, tenta dizer-lhe algo mas não é correspondido, então levanta e vai para casa. Chegando lá, senta em sua cama, pega o telefone e disca o número, 0800..., alguém responde: — 0800 suicídio. Rogério joga o telefone na cama, se afasta trêmulo. Convencido de que não escutara bem a telefonista, disca novamente e escuta: — 0800 suicídio. Pois não, senhor Rogério? Ele joga novamente o telefone na cama, pega uma bebida que tinha em casa, termina com a garrafa e adormece.
Rogério acorda atordoado, um pouco pela ressaca decorrente da bebida na noite anterior e o restante pela ligação que lhe pareceu um pesadelo. Sai para a rua, caminha lentamente para o ponto de ônibus, chega próximo a um posto de gasolina e desce. Cumprimenta algumas pessoas que lá trabalhavam, se aproxima do proprietário.
— Bom dia, sou Rogério. — Rogério lhe estende a mão, ele buscava ali participar de uma grande obra, há muito programada.
— Bom dia, desculpe perguntar, mas o senhor bebe? Não pude deixar de sentir o cheiro. — Rogério abre um sorriso sem graça e logo após alguns minutos o proprietário lhe avisa que caso necessitasse de seus serviços, ligaria.
Rogério caminha até o bar que freqüentava e lá encontra seu amigo Marcio. Conta sobre seu dia e do acontecimento intrigante da noite anterior. Marcio fala que para ele não era novidade e que até conhecia pessoas que tinham escolhido aquele caminho. Rogério ficou mais perturbado ainda. Marcio lhe diz que agendara com aquela empresa, ao qual classificou como excelente, um serviço parecido, estendeu um copo cheio de conhaque para Rogério, que ficou atordoado e saiu do bar em direção à sua casa.
Rogério, sentado à cama, observava o telefone. Após alguns minutos pegou o aparelho e discou o número, uma voz respondeu:
— 0800 suicídio. Pois não, senhor Rogério?
— Eu só quero algumas informações.
—Claro, senhor, mas para isso necessitamos de sua assinatura em um contrato de associado, mandaremos um mensageiro.
— Você não entendeu. — Antes que Rogério terminasse de falar alguém bate à porta.
Rogério levanta para atender:
— Sim?
— Eu sou o mensageiro. — E o jovem rapaz estendeu-lhe um contrato.
— Como? Eu ainda estou ao telefone, falando com a telefonista!
— É só o senhor assinar que todas as perguntas serão respondidas. — Então Rogério assinou o contrato, observou o jovem rapaz caminhando pelo corredor e voltou para terminar ao telefone.
— O que está acontecendo?
— Não se preocupe, receberá após alguns dias todas as informações.
A telefonista desligou, Rogério ficou perturbado, pois não lera o que acabara de assinar, toca o seu aparelho:
— Rogério, aqui é o Marcio, tenho belas novidades para você, encontre-me amanhã no nosso local de encontros, pela manhã. — Rogério fica curioso, porém  cansado, deita-se e dorme.
Ao acordar, se arruma rapidamente e corre para o encontro com Marcio, que o informa de uma construção que se iniciara próximo à sua casa e da necessidade desta que, aparentemente, correspondia aos conhecimentos de Rogério. Marcio leva o amigo até uma loja de roupas, providencia um traje, esporte fino. Diz-lhe que não se preocupe, pois com o seu primeiro pagamento poderá quitar aquela dívida, ambos caminham para o imóvel em construção. Chegando próximo ao imóvel, Marcio se despede de Rogério e o orienta quanto ao local da entrevista.
Rogério, bem alinhado, caminha até a construção, entra em uma sala bem arrumada e é recebido pelo proprietário. Uma bela mulher, aparentando seus 36 anos, o recebe. Informa das necessidades de sua empresa, estende a mão para ele e lhe informa que estava contratado, mas não antes de preencher alguns documentos. Helena, a proprietária, convida Rogério para um jantar a fim de acertar os detalhes finais da contratação.
Rogério, vestido com sua melhor roupa, chega ao restaurante e observa, ao entrar,  Helena, bela e radiante, sentada com uma saia que além de acentuar-lhe as curvas, deixava grande parte de suas belas pernas aparecerem, fazendo com que todos à sua volta procurassem encontrar aquela brecha que ela engenhosamente cobria a fim de manter sua dignidade.
Rogério se aproximou, segurou a mão dela e conduziu-a até uma mesa. Ambos aproveitaram a noite para se conhecerem melhor, Helena levou-o até sua casa.
Amanheceu e Rogério percebeu-a ao seu lado. Ela levantou e o serviu de um belo café. Aproveitou para informá-lo de quando começaria no serviço. Rogério comunicou-lhe a necessidade de passar em casa para melhor organizar seu dia, Helena adiantou a metade do pagamento e emprestou-lhe um carro para maior conforto.
Rodava pela cidade extremamente feliz, recapitulava o seu dia, a bela conquista, o emprego. Olhava para o belo carro que a chefe lhe emprestara. Passou a quarta marcha e experimentou a potência do veículo, ao passar a quinta marcha uma corrente elétrica partiu do câmbio tomando seu corpo e causando-lhe um ataque cardíaco, o carro capotou e parou ao bater em um poste.
Segundos se passaram e ele despertou, estava em meio à lataria do carro, um bombeiro falava-lhe ao ouvido, Rogério o reconheceu, era Marcio. — Calma Rogério, já está acabando, todas as despesas serão pagas através da apólice de seguro que você assinou, sei que teve uma boa vida. Rogério arregalou os olhos enquanto Marcio tapava-lhe as narinas e a boca.
“Rogério morto, não me deixou nada, quanta tristeza trago nesta vida! A casa que ele deixou, agora está sendo disputada por outra mulher, que lhe acusa de estupro e roubo de carro”. Pensava Raquel enquanto chorava, as lágrimas desciam pelo seu rosto, viajavam pelo ar e caiam sobre o chão. Raquel pega o telefone e um cartão que se encontrava em uma mesa à sua frente e disca um número, escuta uma atendente: — 0800 suicídio. Pois não, senhorita Raquel?...

ANTONIO C. ALMEIDA é natural do Rio de Janeiro. Aos dezesseis anos participou de seu primeiro concurso literário e obteve o primeiro lugar com a poesia «De Olhar Para o Céu». Escreve desde os treze anos de idade e mantém um acervo de mais de dois mil escritos. Estudou Matemática na UERJ. No ano de 2011 lançou seu primeiro livro: «Caminhos do Destino» e em 2013 o segundo: «Alma Assassina». Atualmente prepara seu terceiro livro: «Vida em Suspense».




Copyright 2013 (c) - Todos os direitos reservados ao autor. Esta obra é parte da coletânea 15 Contos+ Volume II, Helena Frenzel Ed. e está licenciada sob uma Licença Creative Commons 2.5 Brasil. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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