quinta-feira, 15 de agosto de 2013

15 CONTOS+ VOLUME II 1a. EDIÇÃO



Série
15 Contos+
Coletânea, Ficção
Volume II, 1a Edição

APRESENTAÇÃO: Sergio Carmach.
EDIÇÃO: HelenaFrenzel.

Agosto de 2013

Aos que ainda buscam a própria voz na arte de contar.

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NOTA DA EDITORA




Sem contrariar a filosofia do projeto, o segundo volume do 15 Contos +  vem com uns ‘contos’ a  mais, a saber: quatro. 
Desta vez decidi-me por uma chamada, por ser uma forma mais democrática e ampla de participação, já que o primeiro volume nasceu de convites individuais, sem os quais eu não poderia ter dado vida ao projeto.
Em primeiro lugar, minha gratidão a todos os inscritos. O sucesso deste projeto depende muito mais das participações do que do meu desejo de fazê-lo sempre melhor. Os resultados quantitativos e qualitativos da chamada foram motivadores: dos 24 contos recebidos, 11 inéditos, ou seja: houve incentivo à produção literária do gênero, um dos objetivos principais.
Findo o primeiro prazo para envio de textos, 30 de abril de 2013, eu havia recebido pouquíssimas inscrições, mesmo assim decidi prorrogar; para alegria de muitos, pois a maioria dos participantes enviou textos no finalzinho do prazo da prorrogação, 15 de maio de 2013, embora a chamada tenha sido posta no ar ainda em fevereiro.
Foi bem difícil a escolha dos textos para este volume e agradeço imensamente aos leitores-beta que muito contribuíram para a composição da lista final. Como podem ver na imagem da capa, não foi possível ter mais participações, de modo que cedi, de bom grado, minha vaga desta vez. Para quem ainda não sabe, o design da capa não pode mudar pois mantém estreita relação com a filosofia do projeto: quinze ‘contos’ em círculo, reforçando a idéia de igualdade no tratamento dos textos e apresentação.
Quinze Contos Mais não é concurso e muito menos eu, no papel de editora, pretendo atuar como crítica. Apresento textos a cada volume e a qualidade dos mesmos quem deverá julgar é o leitor, por si. 
O volume vem prefaciado pelo escritor Sergio Carmach, autor de Para Sempre Ana (Editora Caravansarai, 2011), livro indicado para concorrer na categoria “melhor romance” do Prêmio Literário Codex de Ouro 2013.
Sergio, muitíssimo obrigada por tão gentilmente ter aceito o meu convite e ter-se disponibilizado a doar um pouco do seu precioso tempo para o Volume II deste projeto, um presente meu a todos aqueles que amam contos e a arte de contar em língua portuguesa.
E a você que nesta nota até aqui me acompanhou, só posso recomendar que siga lendo, pois neste volume, muito provavelmente, consegui reunir dezenove contos com muito boas chances de capturar sua atenção.

Atenciosamente,

Helena Frenzel, St. Ingbert, Alemanha, 04 de julho de 2013.


HELENA FRENZEL é maranhense, vive na Alemanha. Tem formação nas áreas de Ciência da Computação e Romanística. É autora e editora de vários EBooks gratuitos independentes, entre eles, as coletâneas «Poemas Para Acordar (2010)» ,«Trinta Contos de Euros e Três de Natal (2010)», «Outros Quinze Contos (2011)» e «Lá Vem o Sol! (2012)». Mantém o site Bluemaedel onde concentra suas letripulias*, o blog Sem Vergonha de Contar, voltado para contos e causos, uma escrivaninha no Recanto das Letras bem como o projeto Quinze Contos Mais e o site Quintextos.
* Letripulias: estripulias com Letras; com letras, estripulias. E com artes, em geral. Letripulista é quem letripulias faz.




Copyright 2013 (c) - Todos os direitos reservados à autora. Esta obra é parte da coletânea 15 Contos+ Volume II, Helena Frenzel Ed. e está licenciada sob uma Licença Creative Commons 2.5 Brasil. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

PREFÁCIO




Ao enveredar pelas linhas a seguir, alguns leitores, tomando ciência de quem as escreve, talvez se vejam envolvidos por brumas de incredulidade e hesitem prosseguir: afinal, por que um romancista estaria introduzindo uma coletânea dedicada a contos? De fato, não é pequena a parcela do público que enxerga a literatura através de um postigo exíguo e mesquinho, segregando contos de romances, e nutre um preconceito que por vezes beira a superstição.
Confesso: durante muito tempo, enclausurado na masmorra dos romancistas radicais, integrei essa estirpe de espíritos débeis e viciosos, que viam contos com olhos glaciais. Mas a boa ventura entrelaçou meu destino aos de exímios contistas de uma incipiente safra nacional, e percebi extasiado: toda forma de literatura resplandece sob o mesmo sol. Mais que isso. Entendi que o contista é um ser notável, pois, na ação de suas histórias, ele está adstrito a universos reduzidos — já que a narrativa nesse estilo literário costuma ater-se a um único fragmento existencial dos personagens, a um único drama em especial, a um único momento definido no tempo — limitação só vencida por uma pena criativa, capaz de conferir um lirismo (igualmente único) às palavras, de elevar a simplicidade a dimensões inimagináveis, de conceder auras oníricas a situações cotidianas e de fazer do clímax dramático um instante intenso e mágico, tudo com o objetivo de arrebatar o leitor de maneira singular, o que remete à célebre e arguta frase do contista argentino Julio Cortázar: “No combate entre um texto e seu leitor, o romance sempre vence por pontos, enquanto o conto deve vencer por nocaute.”
A despeito de todas as qualidades inerentes aos contos e dos prazeres proporcionados por esse estilo narrativo, promovê-los em um projeto demanda coragem e abnegação. O fomentador precisa superar a barreira do gosto popular por histórias longas e apresentar um produto atraente ao público — como dito acima, que o nocauteie. Entre esses heróis criativos, temos uma maranhense dada a “letripulias” — como ela própria define sua postura literária — que, apesar de formada nas áreas de Ciência da Computação e Romanística, é autora e editora de EBooks gratuitos e independentes, blogueira voltada às Letras e mentora do projeto 15 Contos +, cujo segundo volume estou tendo a felicidade de introduzir.
Tal qual um gemólogo encantado ao se deparar com o potencial de diamantes inlapidados, li, feliz, os textos auspiciosos deste volume em seu estado original, sem revisões ou alterações. Assim como uma pedra precisa ser bela, rara e durável para ser considerada uma gema, um texto, além de possuir certos atributos para ser qualificado como conto, também necessita de certas qualidades para ser precioso. E elas estão presentes nas linhas criadas pelos autores desta coletânea, pois Helena selecionou escritos promissores — poéticos, criativos e repletos de imagens vívidas — para integrá-la. O leitor que se aventurar neste volume certamente se deparará com diversos estilos de contar um conto, mas jamais deixará de se deleitar.
As palavras na história de um contista exímio são cheias de significados especiais, cujo enunciado nem sempre se extrai em um primeiro momento (coisa da verdadeira arte), e demandam leitores sensíveis, que queiram e saibam degustá-las na essência. Espero que você, que acompanhou até o final esta introdução, seja um desses seres abençoados.

Sergio Carmach, 29 de julho de 2013.

SERGIO CARMACH é escritor — autor do livro Para Sempre Ana (Editora Caravansarai, 2011), indicado para concorrer na categoria “melhor romance” do Prêmio Literário Codex de Ouro 2013 — videomaker e advogado (sergiocarmach.blogspot.com).




Copyright 2013 (c) - Todos os direitos reservados ao autor. Esta obra é parte da coletânea 15 Contos+ Volume II, Helena Frenzel Ed. e está licenciada sob uma Licença Creative Commons 2.5 Brasil. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

DOIS PARES DE OLHOS



Por Ailton Augusto

I. A contrariada

Olhou pela janela: a lua nascia de um amarelo forte, que contrastava com o tom avermelhado do vinho na taça. Aliás, vinho já quente, pois a escolha de um vestido para a festa estava tomando mais tempo do que gostaria. Mais que isso: ela tinha uma excessiva dificuldade, devida em boa parte ao fato de que ir àquela festa com seu namorado era uma obrigação.
Tratava-se da festa de aniversário de uma criança, filha de um colega de trabalho dele. E ela sabia como se sentiria ao ter de sentar na mesa com gente desconhecida e obrigar-se a conversar sobre amenidades, comendo mais do que gostaria para manter a boca ocupada com algo mais que palavras vãs, trocadas para ocupar o tempo.
A noite, já entrada, se anunciava fria e ela optou por um vestido preto de corte simples, o qual seria encimado por uma echarpe igualmente preta. O tipo de evento talvez exigisse dela uma roupa mais alegre, de cores festivas. Contudo, ela optou pelo extremo oposto: iria de luto por sua noite perdida. Teria sido tão mais fácil inventar uma desculpa para não ir...

II. O inapto

Ele estava no ponto de ônibus quando recebeu a ligação convidando para a festa. Demorou um pouco para entender o convite, pois não se via tão íntimo do pai da criança, com quem havia estudado dez ou doze anos antes. Acrescente-se, a título de informação, que o rapaz em questão era totalmente inapto para o jogo de cena social e, em sua visão restrita, nenhuma afinidade justificava sua estadia naquele evento.
Apesar disso, decidiu ir. Reconhecia que a festa tinha, em si, muito poucos atrativos — apenas a possibilidade de rever duas ou três pessoas conhecidas com quem ele se encontrara de modo casual nos últimos anos, após a formatura de todos eles... Com um pouco de sorte, ele poderia aproveitar a ocasião para se reaproximar das pessoas, principalmente o anfitrião e, assim, voltar a desfrutar da sensação de ter um amigo. Ele, inapto e solitário.
Poder-se-ia dizer mais coisas a seu respeito, inclusive as inúmeras dificuldades que teve para escolher um presente para a criança pequena, as quais resolveu com a indelicadeza de colocar uma quantia de dinheiro em um envelope que seria entregue, com muitos rodeios, no dia da festa.

III. Dois pares de olhos

Antes que o leitor pergunte, o inapto e a contrariada não eram namorados. Eles sequer se conheciam. Na festa, por um acaso, terminaram sentando na mesma mesa.
Explica-se o acaso: como a casa de eventos era acanhada, optou-se por reduzir a quantidade de mesas para poder deixar mais espaço livre para a pista de dança. Com isso, o rapaz inapto, tímido como ele só, teve de pedir licença e sentar-se entre desconhecidos. Ele sentia-se um homem de sorte por não ter sido rejeitado naquela mesa onde (como veio a saber depois) havia médicos, advogados e outros “doutores”.
A conversa, como todos de algum modo esperavam, versou sobre amenidades. Contaram-se muitas histórias velhas envolvendo o dono da festa. Contadas a título de anedota, elas tinham também o objetivo de justificar, por parte de quem detinha a palavra, a presença naquela festa, junto dos demais convivas.
Em algum momento da noite deixaram as tábuas de frios e coisas afins em uma mesa na outra ponta do salão. Entretanto, ninguém se animava a ser o primeiro a buscar tais alimentos com medo de parecer esganado ou morto de fome. A moça contrariada, que, como se nota pela alcunha, não via razão de ser da sua presença na festa decidiu puxar a fila. Foi até a mesa e montou um pratinho.
Voltando à mesa, ela decidiu oferecer àquele rapaz encolhido parte da comida que tinha em seu prato. Com um sorriso ele aceitou e, como retribuição, ele roubou um doce da mesa do bolo e trouxe para ela, cujo nome ele nem se lembrava mais, apesar das apresentações do início da noite.
Os lábios dela, até então uma inexpressiva linha reta, fizeram leve curva ascendente no esboço de um sorriso de gratidão e, pareceu a ele, identificação. Identificação?... Os dois pares de olhos, o dela e o dele, originam olhares que se cruzaram durante a noite num diálogo mudo, mas sem segundas intenções. Cabe dizer ainda que, da parte do rapaz, que era um pouco mais novo que ela, qualquer relação seria complicada diante do fato de ele estar frente a uma jovem senhora já comprometida, muito ensimesmada e bastante indiferente a julgar pela contenção de seus gestos e palavras.
Eles apenas se entendiam no seu deslocamento, tão grande que nem sequer conseguiam largar a conversa amena com os outros para dedicarem-se a um diálogo que se fizesse paralelo e mais interessante para eles. Nesses dois pares de olhos dançava a mesma pergunta: que estamos fazendo aqui?

IV. Comentários de fim de noite

A moça saiu antes do fim da festa, arrastando seu namorado com tato suficiente para não soar grosseira a sua retirada quase à francesa. Desacompanhado por natureza e abandonado pela sua companheira de infortúnio descoberta ao acaso, o rapaz inapto só permaneceu até o fim da festa porque um antigo colega de estudos, que havia chegado atrasado e estava em outra mesa, ofereceu-lhe carona.
No trajeto de volta, ele e seu colega dedicaram-se aos comentários habituais sobre festas dessa natureza, além de tecerem algumas considerações a respeito deste ou daquele convidado. Dois pares de olhos se cruzam e o motorista pergunta: mas como você se virou naquela mesa? A moça do vestido preto, pelo que vi de longe, pareceu tão antipática e esquisita...
O inapto fazia tanta justiça ao apodo que terminou concordando com quem lhe dava carona. Criticou a moça com cujo deslocamento se irmanou. E o fez em busca de que tipo de apoio ou afirmação?

AILTON AUGUSTO é natural de Juiz de Fora/MG. Graduou-se em Letras pela UFJF, onde estudou com mais afinco as literaturas de língua portuguesa e língua espanhola. É escritor amador, com textos dispersos entre os blogs umeternobrainstorm.blogspot.com e verdadesprovisorias-jf.blogspot.com. Junto com outros dois amigos, atua como editor da Revista Encontro Literário (ISSN 2237-9401, revistaencontroliterario.blogspot.com).




Copyright 2013 (c) - Todos os direitos reservados ao autor. Esta obra é parte da coletânea 15 Contos+ Volume II, Helena Frenzel Ed. e está licenciada sob uma Licença Creative Commons 2.5 Brasil. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.