sábado, 29 de dezembro de 2012

Leitores, Escritores e as Estações

Há um bom tempo já o Blog Caixa Surrealista, de Ricardo Toledo, não é atualizado. Pouco importa. Importa é que lá se pode ler textos muito bons, como este: As estações de um escritor. Eis o primeiro parágrafo para dar um gostinho, porém recomendo muito a leitura completa no site original.

As estações de um escritor
Por Ricardo Toledo

Alguns escritores possuem suas sazões; é isso mesmo que você acabou de ler, sazões. Porém, não se pode esquecer que há leitores que também leem sob uma perspectiva sazonal, seus olhos são sazonais. É no interior da incongruência entre esses momentos, do escritor e seu leitor, que se estabelece o conflito extrínseco ao texto entre essas duas figuras. De um lado, o escritor que quer se expressar de acordo com a estação em que se encontra, do outro, o leitor que exige do texto que seus frutos sejam os específicos de ... (continue lendo aqui)


Em tempo: Feliz 2013 e muito obrigada pela companhia até aqui!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

GRANTA em Português /9 – Impressões de Leitura



Foto: divulgação ( site de origem )


Li recentemente a GRANTA em Português/9; uma amiga enviou-me um exemplar de presente e foi a maior surpresa, já que ao ser perguntada se eu desejava que ela me mandasse alguma coisa do Brasil, respondi que qualquer livro em Português estaria muito bom, qualquer livro de literatura contemporânea, e ela me mandou a GRANTA.

Além de ter lido um artigo no jornal na época do lançamento, por acaso descobri um site (OFF-GRANTA) em que se pode ler alguns dos textos submetidos que ficaram fora da seleção final. Foi bom ter feito essa leitura primeiro, pois serviu-me de base de comparação.

Achei o título exagerado, confesso. Não gosto de nada que se venda como 'o melhor' ou 'os melhores' (1), é suspeito de um ponto de vista filosófico, e inadequado de um ponto de vista computacional – quem já se confrontou com algoritmos que envolvem a escolha de ‘um melhor’ sabe do que estou falando, mas acho que entendi a proposta: houve um concurso e selecionaram ‘os melhores’ dentre os inscritos, mas daí a rotular essa seleção de ‘os melhores jovens escritores brasileiros’ da atualidade dá margem a muitos questionamentos, não? 

Sim, vamos aos textos: todos eles são muito bons, sem dúvida. Gostei muito de AQUELE VENTO NA PRAÇA (Laura Erber), O JANTAR (Julián Fuks), MÃE (Chico Mattoso), TEMPORADA (Emilio Fraia), F PARA WELLES (Antônio Xerxenesky). De TERESA (Cristiano Aguiar) e NATUREZA-MORTA (Vinícius Jatobá) gostei ainda mais.

Todos os textos têm valor artístico, estilístico, social e literário, mas não vi de fato nada novo, refiro-me a uma proposta estética, à forma de contar as histórias.

Esta coletânea deu-me uma pequena amostra do que se encontra nas livrarias brasileiras atualmente e instigou-me a manter o ouvido muito mais apurado para o que está ocorrendo fora das grandes corporações. Em suma, deixando de lado questionamentos sobre a seleção, recomendo muito a leitura porque os textos valem por si.


Ficha:
Titulo: GRANTA 9, Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros
Antologias (Ficção)
Editor: Marcelo Ferroni
Ano: 2012
Editora: Objetiva
ISBN: 978-85-7962-136-9



(1) No projeto 15 Contos +, o '+' não quer dizer 'melhores textos' e, sim, textos com alguma qualidade literária, dos quais o leitor poderá gostar. Não trabalhamos com a idéia de classificação, recomendamos os textos apenas, e a qualidade: que julgue o leitor.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

15 Contos + Volume I - Agora em EPUB

Se você tem um iPad ou outro Ebook Reader, aqui vai uma versão experimental em EPUB do 15 Contos +, Volume I. 

Havendo problemas com a visualização do arquivo no seu aparelho, favor informar, pois só pude testar no iPad.




Da norma para se fazer arte


"É comum que pessoas que desejam escrever, por exemplo, não tenham ideia de como fazê-lo, porque interpretam a arte da literatura do ponto de vista de uma instituição que deve ter a propriedade da norma a ser seguida. O mesmo ocorre com a pintura. A técnica em pintura é uma coisa maravihosa, mas justamente porque se pode usá-la para combater a própria ideia de uma regra. Muitas vezes as pessoas acreditam sem questionamento que há uma norma para fazer a arte, como se a arte não fosse justamente a contraposição a esta norma."

Trecho de SOBRE A ARTE E A VIDA, texto de Marcia Tiburi publicado em filosofia cinza. O negrito é nosso, ou seja: não aparece do texto original.

Certa vez, li num livro cujo título e autoria agora não me lembro, idéias que me levaram à seguinte construção:


Bula Para Escrever


Quis conhecer as regras,
    Palavras se calaram
        Quis aplicar as regras,
           Estruturas se rebelaram
               Quis burlar as regras,
                    Puristas me criticaram:
                       “Regras: só quem conhece
                            Pode ignorar!”
E nesta regra, sentido há?
                            O que pensa você:
                         Seguir ou não bulas
                       Para escrever?
                     Abolir regras e bulas?
                  Não é bem esta a questão...
              Considerá-las, sim...
           Tolher-se por elas, não.
        Fica de um poeta,
      A seta da meta:
   “Viver não é preciso!”
Criar, também não!

BULA PARA ESCREVER: texto publicado por Helena Frenzel em 20/08/2009 no site Recanto das Letras (Código: T1764070). 


domingo, 16 de dezembro de 2012

Sempre um Papo - Nélida Piñon - 2004

Penso que literatura não é algo que se pode ensinar, o máximo que podemos fazer é contagiar os ouvintes pelo fascínio que sentimos por ela, sobretudo pelos mistérios da arte e sua criação. 

Neste vídeo, a escritora Nélida Piñon ilustra muito bem isso, dando vida ao que conta em sua participação no Programa Sempre Um Papo. As idéias seguem atualíssimas. Incrível como o Brasil desconhece os tesouros que tem... Confira, pois só tem a ganhar!

Obs: a qualidade dos vídeos não é tão boa, mas o conteúdo é nota mil.
















quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Aire de Dylan, Vila-Matas

  Foto: divulgação.
 


Ares do acaso que sopram pela vida fizeram-me  buscando informações sobre Enrique Vila-Matas, que até então eu não conhecia topar com ‘Aire de Dylan’, um de seus mais novos títulos em formato digital. Dada a facilidade de acesso, baixei a prova de leitura e chegando ao final, sem querer interromper o prazer que o texto me deu — diga-se de passagem que há muito tempo um livro contemporâneo não conseguia me prender assim —, paguei o preço para poder ler o resto, preço relativamente alto para uma edição digital, penso, mas não me arrependi, o texto valeu.

Além de esconder um tipo de ensaio sobre o teatro, literatura e geração do pós-modernismo (no mundo hispano, é claro, já que o termo ‘pós-moderno’ tem diferentes significados dependendo do contexto e do lugar), o leitor se vê em uma trama bem original, pelo menos na forma de contar a história, já que o padrão ‘teatro dentro do teatro’ há muito é usado na Literatura, começando por Hamlet, obra com a qual esse texto dialoga mais.

A história começa mais ou menos assim (e isso está na prova de leitura): um escritor catalão bem sucedido vai à Suíça participar de um congresso literário sobre o fracasso e lá encontra Vilnius, jovem que ali estava para substituir o pai, Juan Lancastre, famoso escritor que acabara de morrer. Interessante notar o contraste entre as figuras de pai e filho: Lancastre é um típico representante da ‘geração forjada na cultura do esforço’ cuja vida e obra só atestam sucessos enquanto Vilnius é parte da geração ‘nada quero e nada faço, mas sou indispensável’, porém ocupa-se em colecionar ‘todos os fracasos do mundo’ para pô-los num filme. E com o propósito (quem sabe) de servir como exemplo vivo de fracasso maior, Vilnius dono de uma fisionomia muito semelhante a Bob Dylan quando jovem nada levou para a congresso além da leitura de uma carta reveladora de intimidades e estranhos acontecimentos ligados à morte do pai.

Passada a leitura da carta, a história segue um fluxo que vai envolvendo o escritor catalão (sem nome) e dando ao leitor, nas entrelinhas e frases muito bem trabalhadas, o paladar de ensaio critico-filosófico, além de uma espiada nos bastidores do cinema mais antigo, do teatro, da literatura, da vida dos personagens e das engrenagens da vida em si. Os personagens vão tomando conta da narrativa fechado lacunas de forma elegante e revelando o pensamento do autor, ao mesmo tempo em que deixam ‘pistas’ para o leitor investigativo, até chegar a um final ameno porém não menos interessante e convidativo à reflexão sobre fracassos, literatura, pós-modernismo, vida ‘y mucho más’.

Eu diria que ‘Aire de Dylan’ não tem somente ares de bom texto, é um excelente texto cuja leitura eu só posso recomendar.


Ficha:
Titulo: Aire de Dylan
Autor: Enrique Vila-Matas
Ano: 2012
Editora: Editorial Seix Barral (www.planetadelibros.com)
ISBN: 978-84-322-1001-3 (epub)



Nota: resenhas não são o meu forte. Aqui vão notas e impressões de leitura tentando não revelar muito sobre a trama — que a descubra o leitor! Para uma resenha mais completa indico a seguinte, em espanhol: 
http://www.revistadeletras.net/aire-de-dylan-de-enrique-vila-matas/ 



Quer colaborar com artigos e resenhas para este site? Entre em contato

 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Colaboradores


Caro(a) Leitor(a),

Colaboradores são sempre bem-vindos. Caso alguém tenha interesse em enviar-me artigos, resenhas ou ensaios relacionados ao universo dos contos ou causos (em geral), ou mesmo em manter uma coluna regular neste site, por favor entre em contato (use o formulário) para que possamos conversar.

Atenciosamente,

Helena Frenzel.

Conversas Interessantes: entrevista com Rodrigo Gurgel

 Sobre inovação, liberdade, o papel da crítica e o papel do escritor
"Se um escritor, antes de começar a escrever, pensa primeiro em como poderá inovar, bem, sinto muito, mas começou mal. Por que não se preocupar, antes de tudo, em ser sincero consigo mesmo? Quando, depois de muito trabalho, de muito esforço, ele encontrar sua própria voz, então já estará inovando."
"Trata-se de entender os papéis que crítico e escritor desempenham dentro do sistema literário. O papel do escritor é escrever, criar. Se ele escreve para satisfazer sua roda de amigos, seu professor de Teoria Literária, seu partido político ou determinado crítico literário, então escreve mal, muito mal. Como em todos os setores da vida, a liberdade deve ser a grande diretiva. A regra serve, feitas as necessárias mudanças, para o crítico. Ambos devem exercer suas tarefas com maturidade, evitando adulações e ideias preconcebidas. E ambos devem agir, principalmente, com independência." - Rodrigo Gurgel, crítico literário, em entrevista publicada no site Suplemento Pernambuco. A parte em negrito (alteração minha) contém a idéia que mais me interessou, aqui, destacar.